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SÉRIE WOODPROTECTION – BLOCO 1

11 de outubro de 2017

SÉRIE WOODPROTECTION – BLOCO 1

O primeiro bloco “Novas Fronteiras – Presente e Futuro: Aspectos regulatórios / normas técnicas – produtos & processos/ ensino & pesquisa / mercados / institucional”, contou com palestrantes de Argentina (Damián Gherscovic – responsável pelo Laboratório Químico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Madeira e Afins da Argentina), Chile (Rosemarie Garay Moena – Professora Associada do Departamento de Engenharia de Madeira e Biomateriais da Faculdade de Engenharia Florestal e Conservação da Natureza, na Universidade do Chile), Uruguai (Marcela Ibáñez – Professora e Pesquisadora do Instituto Superior de Estudos Florestais da Universidade da República, do Uruguai) e Brasil (Sérgio Brazolin – Doutor em Tecnologia de Recursos Florestais pela ESALQ e gestor do Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), que falaram sobre os mercados – interno e exportação – de madeira tratada, políticas florestais, legislação, e espécies utilizadas em seus países, entre outros assuntos.

Os quatro foram unânimes sobre dois pontos: 1) a construção civil é o mercado com maior potencial de crescimento para a madeira tratada e o que agrega mais valor ao produto; 2) o mercado demanda produtos preservativos amigáveis, face às restrições de uso de madeira tratada em algumas aplicações como, por exemplo, construções residenciais, em vários países.

Agora vamos ver o que cada um apresentou em sua palestra:

Gherscovic informou que a superfície florestal argentina divide-se em 33 milhões de hectares de florestas nativas e 1,2 milhão de hectares de florestas plantadas. Ele explicou que por lá a maior parte da madeira tratada vai para mourões, seguida de postes, dormentes e construção civil. A Argentina tem cerca de 100 autoclaves para a produção de aproximadamente 180.000m3/ano de madeira impregnada com CCA (apenas quatro utilizam creosoto).

A produção anual de postes é superior a 500 mil unidades para atender os mercados interno e externo, tratados com CCA e creosoto, porém algumas cidades já não permitem postes com creosoto. Em relação aos dormentes, a produção varia de acordo com as políticas governamentais ferroviárias: este ano está em torno de 50 mil e a previsão para 2018 é chegar a 120 mil. Ele também informou que a indústria da construção está em pleno crescimento, e que em 2016 foi criado um regulamento técnico para construções de madeira, mas os bancos ainda não as financiam.

De acordo com Gherscovic, a Argentina já tem novos produtos ambientalmente amigáveis, como os à base de cobre azoles, que ainda não conseguiram se firmar no mercado por questões de custos, e frisou que preservação de madeira tem de ir além dos tratamentos contra organismos xilófagos (fungos e cupins).

A segunda a se apresentar foi Rosemarie Garay Moena, que destacou o fato de o Chile ser um dos 10 maiores produtores mundiais de madeira, mas não um consumidor de madeira: o produto representa entre 2,8 e 3,0% do PIB; exportou 2,5 milhões de m3 (segundo setor em exportações em 2016): 5,8 milhões de m3 para o mercado interno. Tem 16,7 milhões de hectares de florestas (14,3 nativas e 2,4 plantadas), predominantemente pinus (60%) e eucalipto (23,6%). Do volume tratado anualmente, cerca de 700 mil m3 (96%) é impregnado com CCA; 2% LOSP (sigla em inglês para os produtos preservativos diluídos em solventes orgânicos leves); 1% CA (cobre-azoles); e 1% boratos.

Para ela, os principais desafios do setor são: a atualização das normas; especialização de profissionais e empresas; controle de qualidade e certificações para uso na construção civil; melhora da percepção da madeira por parte da população; e integração de todas as entidades de controle. Rosemarie afirmou que a maioria da população não se sente confortável morando em construções de madeira, pois considera algo precário. Disse também que o país está enfrentando o desafio de padronizar todo material para construção, preparando-se para identificar cada peça de madeira com todas as informações que garantem que ela seja, por exemplo, estrutural, com o objetivo de aumentar de maneira significativa a sua utilização na construção civil

A representante do Uruguai Marcela Ibáñez afirmou que o setor florestal é novo no Uruguai (a lei Florestal é de 1987, modificada em 2006 e 2010), mas que em 2015 representou 17% do total de exportações (um crescimento de 25% em relação ao ano anterior). Assim como na Argentina, o uso do CCA é parcialmente proibido – não pode ter madeira tratada com esse preservativo em vinhedos – o que está impulsionando a pesquisa por produtos preservativos alternativos. Das 22 usinas do país (em 2014), que tratam aproximadamente 150 mil m3/ano, somente uma usina trabalha com produtos à base de cobre-azoles.

Segundo Marcela, o Ministério de Vivienda (Habitação) está estimulando construção em madeira, mas poucas empresas (somente as maiores) utilizam o “Guía de Buenas Praticas em Impregnación de Madera (2008)” e que não há regras muito claras para as exigências em um edital (preservativo, retenção), o que dificulta a implantação do produto.

Sérgio Brazolin, começou sua apresentação dizendo que o Brasil tem um potencial florestal enorme, mas que a maior parte da produção de 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas destina-se à celulose e energia. O biólogo apresentou estimativa da ABPM para a utilização de madeira tratada no Brasil: 2 milhões m³/ano: 60 a 65 % – setor rural (mourões); 15% – setor elétrico (postes e cruzetas); 5 % – setor ferroviário (dormentes); e 5 a 10 % -construção civil. Em comparação apresentou os números para os EUA: 25 milhões m3/ano, sendo que 70% vai construção civil e 30% para mourões, postes e dormentes.

Ele frisou a tradição do país de preferir o aço e outros materiais à madeira, que o uso indevido da madeira só reforça a ideia de que ela é ruim e não serve para moradias, e que essa tradição está ligada ao uso não engenheirado do material, que até bem pouco tempo atrás era usado apenas como forma para concreto. Brazolin chamou a atenção para um dos principais papéis da cadeia produtiva de madeira: mostrar que ela é um material de engenharia, pois é no mercado da construção civil, ainda muito pequeno no Brasil, que ela tem maior valor agregado.

Três destaques de Brazolin na construção civil foram 1) a NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho – que estabelece que componentes estruturais precisam ter uma durabilidade mínima de 50 anos (processos de impermeabilização, contra fogo). Para ele, é fundamental entender bem a norma e contextualizar a madeira tratada dentro dela, pois se “quisermos massificar a utilização de madeira, temos de construir casas para a classe média, então é necessário estudar e dialogar com a NBR 15575. 2) Light Wood Frame (sistemas leves em madeira), amplamente utilizado na América do Norte, Europa e Ásia; 3) CLT (Cross Laminated Timber).

Brazolin também afirma que a indústria vai ter de mudar muito em relação à precisão de corte, de conexões etc., mas não tem dúvida de que o futuro da proteção de madeira está na construção civil. Ele ainda falou sobre a tendência mundial de buscar produtos menos tóxicos, e que na construção civil ela já é forte em arquitetos e engenheiros brasileiros. O problema (ou um deles) é que infelizmente nos cursos de engenharia civil e arquitetura na maioria das universidades brasileiras, o material madeira e sua proteção são negligenciados.

Para Gonzalo A. Carballeira Lopez, presidente da ABPM, “existem poucas e pequenas diferenças técnicas quanto ao quadro da preservação de madeiras na América do Sul, principalmente em relação aos produtos utilizados. Por outro lado, são preocupações comuns: a tendência crescente de uso de produtos cada vez mais amigáveis ao meio ambiente, e o entendimento de que a inserção em larga escala da madeira tratada no mercado da construção civil, incluindo a madeira engenheirada, será o principal desafio para todos os envolvidos em sua cadeia produtiva, questão em que a ABPM terá papel preponderante com suas ações junto ao mercado”.



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