ABPM

WOODPROTECTION REUNIU MAIS DE 150 PROFISSIONAIS DA CADEIA PRODUTIVA DE MADEIRA TRATADA

20 de setembro de 2017

Conferência Sul-Americana de Tecnologias para Proteção de Madeiras aconteceu em Curitiba (PR), no último dia 19

Depois de oito anos, a “família da preservação de madeira” voltou a se encontrar em um evento da ABPM (Associação Brasileira de Preservadores de Madeira), desta vez em parceria com a FG4Mad Consultoria em Madeira e Malinovski. Durante a WoodProtection representantes de companhias ferroviárias e elétricas, da construção civil, e de instituições de ensino e pesquisa do Brasil e exterior, entre outros, compartilharam informações e discutiram temas relevantes para o setor, o que só foi possível graças à confiança e apoio dos patrocinadores Koppers, LSI, Madvei e Montana, além de Campo Alegre, CBI Madeiras, JR Castoldi, Lanxess, Madem, Madtrat, Mill, MSM Química, Rossin, SEAP, Venturoli e ZAF.

Dividida em quatro partes, a WoodProtection abordou assuntos como mercados atual e futuro, normas técnicas, aspectos regulatórios e culturais, produtos e processos, autorregulamentação, segurança, qualidade, apelo ambiental e custos competitivos. E após o encerramento das palestras de cada painel, aconteceram discussões enriquecedoras que certamente ajudarão a quebrar paradigmas no setor de madeira tratada.

O primeiro de quatro blocos, “Novas Fronteiras – Presente e Futuro: Aspectos regulatórios/ normas técnicas – produtos & processos / ensino & pesquisa / mercados / institucional”, contou com palestrantes de Argentina (Damián Gherscovic), Chile (Rosemarie Garay Moena), Uruguai (Marcela Ibáñez) e Brasil (Sérgio Brazolin), que falaram sobre o mercado de madeira tratada, políticas florestais, espécies utilizadas, legislação e desenvolvimento de produtos preservativos “amigáveis” em seus países.

Os quatro foram unânimes sobre dois pontos: a construção civil é o mercado com maior potencial de crescimento para a madeira tratada, e o que agrega mais valor ao produto. A representante do Chile destacou o desafio de padronizar todo material para construção e que o país já está se preparando para identificar cada peça de madeira com todas as informações que garantem que ela seja estrutural, por exemplo.

Para os representantes de Brasil e Chile, as pessoas ainda não se sentem confortáveis morando em construções de madeira, e enxergam esse tipo de moradia como precária. Ainda de acordo com Brazolin, o uso indevido da madeira só leva a reforçar a tradição de que madeira é ruim, e que um dos papéis da proteção de madeira é mostrar que ela é um material de engenharia.

No painel seguinte, “Ferramentas de Mercado”, Fernando Lopes, Diretor Presidente do Instituto Totum, fez uma apresentação sobre a importância de programas de autorregulamentação, dando como exemplo o selo de pureza do café (ABIC). Segundo ele, há 20 anos o café tinha muitas impurezas, mas os produtores se uniram, criaram uma autorregulamentação e expurgaram os produtores que não forneciam café adequado. E hoje, os supermercados só compram café que tem selo ABIC.

Esse é também o objetivo do Qualitrat, selo de autorregulamentação de madeira tratada no país: disciplinar o mercado, mostrando aos consumidores quais usinas de preservação de madeira (UPM) produzem com legalidade e qualidade. E como resultado do importante trabalho que vem sendo desenvolvido para atrair novas empresas ao programa, ao final da WoodProtection algumas UPM’s solicitaram adesão ao Qualitrat.

“Utilização da madeira tratada no Brasil – opção real ou regulador de mercado? Posicionamento frente a alternativas” foi o tema central do terceiro bloco, que contou com Leonardo Souza Soares, Nilton dos Santos Filho, Carlito Calil Júnior, Alan Dias e Guilherme Correa Stamato falando, respectivamente, sobre a utilização de madeira tratada na indústria ferroviária, elétrica, como componentes estruturais para pontes e obras de infraestrutura, na engenharia e arquitetura, e como estruturas industrializadas para coberturas.

Em relação aos dormentes de madeira tratada, o grande desafio é aumentar a vida útil para que ele seja competitivo, pois uma das razões para a substituição por concreto, aço e polímero é a durabilidade, afinal cada vez que é necessário trocar uma peça, é preciso parar um grande número de trens. Já na indústria elétrica, a luta é contra o preconceito causado pelo desconhecimento, pois muitos apontam a madeira tratada como produto de baixa qualidade. Porém, entre os benefícios estão a facilidade de transporte e manuseio, e o isolamento elétrico, além do custo vantajoso.

Para os palestrantes das áreas de arquitetura, engenharia e infraestrutura um dos principais problemas apontados é o fato de poucas universidades no país oferecerem bons cursos de estrutura de madeira, e pior, na maioria delas o material madeira e sua proteção serem simplesmente negligenciados. Eles também entendem que a falta de padronização do produto culmina em perda de credibilidade, e que o Qualitrat seria uma solução para essa questão, já que o programa acabaria com a ignorância tanto de quem especifica como de quem compra madeira tratada.

No último, mas não menos importante, bloco, foram apresentadas e discutidas questões relacionadas à segurança, qualidade e aspectos regulatórios, com Luiz Carlos Duarte Bueno, consultor em preservação de madeiras, e Janaína Carneiro Silva, analista ambiental do IBAMA. De acordo com Bueno, o parque industrial brasileiro é praticamente o mesmo que o norte-americano (mais de 400 UPM’s), porém a nossa produção é cerca de 10% a dos EUA. Por que isso? Ainda segundo o consultor, muitas usinas no Brasil que queimavam carvão ou vendiam madeira para celulose tiveram queda considerável em suas produções, então se voltaram para tratamento de madeira sem um plano de negócios ou conhecimento do setor, resultando em produto de baixa qualidade.

A palavra da analista do IBAMA, Janaína Carneiro Silva, foi forte e objetiva: “o Estado precisa de um controle forte para trabalhar bem, e no caso de tratamento de madeira há precariedade normativa”. A Portaria Interministerial 292, de 28/04/89, prevê registro de produto preservativo, mas não existe lei que obrigue o registro. O que sustenta a necessidade de registro no Brasil é uma portaria de um ministério que não existe mais (Interior) e uma Instrução Normativa do IBAMA que se baseia em decretos que já foram revogados. Há confusão, gerada por desconhecimento, entre produtos preservativos e agrotóxicos. Então é preciso que o setor se mobilize para criar uma legislação forte.

Para a ABPM, o saldo da WoodProtection foi muito positivo. “O evento ainda não tinha terminado e várias UPM’s preencheram o formulário de associação à ABPM, o que demonstra que elas perceberam a importância da ABPM como entidade que representa o setor de madeira tratada no país”, destaca Gonzalo A. Carballeira Lopez, presidente da ABPM. “Além disso, trocar informações com os nossos vizinhos Chile, Uruguai e Argentina, ouvir os experientes palestrantes brasileiros, e participar das discussões após cada bloco nos ofereceu uma excelente oportunidade para vislumbrar os caminhos a serem seguidos”, complementa.

A WoodProtection, que fez parte da SIM (Semana Internacional da Madeira), foi uma realização da ABPM, FG4Mad Consultoria em Madeira e Malinovski.