Qualidade da madeira preservada é tema de evento na UFPR
Associação Brasileira de Preservadores de Madeira foi uma das convidadas do encontro, e apresentou seu programa de qualidade, além dos benefícios da adesão para o mercado
O Departamento de Tecnologia e Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizou, no dia 07 de novembro, o I Encontro de Operadores de UTM (Usina de Tratamento de Madeira), com o objetivo de promover a interação entre fabricantes, agentes técnicos e usuários e discutir a madeira preservada e a qualidade do produto. A Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM) foi uma das apoiadoras do encontro, e teve dois palestrantes representando a entidade: Fernando Lopes, diretor técnico do Instituto Totum, que apresentou o Programa de Autorregulamentação da ABPM, o Qualitrat; e a coordenadora técnica da instituição, Gislene Silva, que falou sobre a importância da implantação de um programa de controle de qualidade nas empresas. Além disso, o vice-presidente da Associação, Elcio Lacerda Lana, também esteve presente ao evento.
Durante sua apresentação, Fernando Lopes detalhou o processo de certificação do programa, e destacou que a ação é voluntária por parte das empresas. De acordo com o diretor técnico, o programa é autorregulado pelo Instituto, que atua como organismo de certificação. O processo é, segundo ele, realizado pelo Totum e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e as decisões são feitas às cegas pela ABPM. Tudo isso traz confiança e credibilidade ao Qualitrat.
Sobre os critérios para certificação, Lopes explicou que o programa é destinado apenas a empresas associadas à ABPM, que, quando auditadas, devem atender a requisitos mandatórios e desejáveis. Hoje, existem dois tipos de selo: adesão, em que é feita apenas a auditoria documental e o selo pode ser renovado apenas uma vez; e pleno, que tem auditoria documental e de campo, vigência permanente e reavaliação anual. Na avaliação do diretor técnico, o Qualitrat atua mais no aspecto de gestão, e deve ser encarado como uma ferramenta de diferenciação.
“Assim, é possível mostrar para o cliente o potencial de qualidade do produto. Diferentemente de outros materiais, como um alimento, por exemplo, em que o cliente compra e sente no gosto se ele está bom ou ruim, na madeira tratada às vezes só é possível saber se ela é boa ou não depois de cinco ou dez anos. Muitas vezes, o fornecedor nem existe mais. Por isso, é muito importante para o cliente ter garantia da empresa que ele está fazendo o negócio. Ou seja: a adesão a um programa de qualidade deve ser encarada como um investimento, não como um gasto. É uma forma de dar ao cliente a certeza de que a empresa sempre esteve e sempre estará presente, provendo produtos bons”, garantiu.
Em seguida, foi a vez de Gislene Silva falar sobre “Controle de Qualidade é uma despesa?”. Segundo ela, o processo de qualidade é regido por parâmetros, que são as normas técnicas. Ainda de acordo com a coordenadora, o controle traz melhoria da qualidade do produto final, maior credibilidade no mercado, aumento da eficiência, redução de custos operacionais, além de maior confiança dos funcionários. Gislene também explicou que o processo envolve diversas etapas, que avaliam forma de secagem; controle do teor de umidade; controle de concentração e balanceamento da solução preservativa; controle da retenção e penetração; entre outros.
Segundo a coordenadora, das 1233 amostras realizadas pelo IPT entre janeiro e julho, 5,9% apresentaram retenção abaixo de 4 kg/m³ ou retenção mínima não atingida para o uso indicado; e 17,9% de uso não identificado apresentaram retenção abaixo de 6,5 kg/m³.
“Isso mostra o volume de madeira tratada de baixa qualidade no mercado. A ABPM tem, hoje, 43 associados. Desses, 33 são usinas de preservação da madeira. O setor da construção civil vem crescendo para a madeira, por conta do wood frame e CLT, que já são realidade no Brasil, então podemos perceber boas perspectivas de crescimento devido às novas tecnologias. Por isso, quem não tratar com qualidade, não vai conseguir aproveitar essa demanda. Sem dúvida, a qualidade faz toda a diferença”, destacou.
Evento
Para Elcio Lacerda Lana, vice-presidente da ABPM, este tipo de encontro é muito importante e reforça o desejo da Associação de aumentar sua presença no setor, pensando sempre de forma institucional. “O mercado da preservação de madeira é um setor que lamentavelmente ainda carece de uma maior aproximação, união e de um espírito mais institucional. Por isso, participar de encontros técnicos como este ajuda a difundir essa visão e a mostrar o que a Associação tem feito em prol do setor”, garantiu.
Ele avalia que é preciso mudar um pouco a visão que as empresas têm, o que pensam e de que forma podem contribuir para o setor. Segundo o vice-presidente, se o setor não se organizar, vai acabar perdendo espaço para produtos alternativos, como ferro, aço e o concreto.
“Não estamos tendo consciência disso, e se não fizermos nada com a questão da qualidade, vamos perder mercado. Por isso, um dos objetivos da Associação é de estar mais presente, ampliar a realização de workshops, participar ainda mais de eventos ligados à preservação de madeira, para difundir essa ideia e levar conhecimento às empresas. Devemos focar em um pensamento institucional, e a palavra-chave para isso é união. Precisamos mostrar que essa união, a partir do associativismo e da adesão a selos de qualificação, como o Qualitrat, é de grande importância para o setor. A madeira tem sido muito combatida pelos materiais alternativos e que nem sempre são ecológicos. A madeira é ecológica, um recurso natural renovável, então é importante que a ABPM sempre insista nisso e trabalhe para difundir esse pensamento no mercado”, afirmou.
Fernando Lopes, do Instituto Totum, também elogiou a proposta do evento, ressaltando que essa é uma iniciativa pioneira de reunir de unidades de tratamento de madeira. Segundo ele, a troca de experiências entre os diversos atores do setor é fundamental, pois muitos ainda encaram o mercado como uma competição entre unidades, o que, na avaliação dele, pode levar a uma deterioração da qualidade. “Dessa forma, o mercado inteiro perde. O cliente vai escolher outro produto que não a madeira”, disse.
Para Rui Maggi, professor da UFPR e organizador do encontro, o principal é mostrar às pessoas que a qualidade pode trazer resultados; ou seja, ela não é somente um agregador de custos, mas um agregador de valor, porque valoriza o trabalho e melhora a atividade.
“O evento surgiu a partir da percepção da carência desse tipo de informação entre os usineiros. A divulgação não foi grande e as vagas acabaram em dois dias, o que foi uma surpresa para nós. A partir deste encontro, percebemos que há demanda. Já temos mais ideias para eventos na área. Acreditamos que isso tende a crescer muito e podemos multiplicar essa proposta de várias formas, em diversos lugares do país”, completou.