Nº 699 - DEZEMBRO DE 2019
ABPM comemora 50 anos
A Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM) completou, em 2019, 50 anos de história. Para comemorar a importante marca, a entidade organizou, no dia 12 de dezembro, um evento com os associados para discutir as perspectivas para os próximos anos. Palestrantes renomados envolvidos na cadeia produtiva da madeira participaram do encontro, que reuniu mais de 60 pessoas em São Pedro (SP).
Para Gonzalo Lopez, presidente da ABPM, os 50 anos da Associação se resumem à luta, desafios e inúmeras conquistas. Ao longo dessa história, ele destacou a organização de encontros técnicos e de um evento internacional – o Wood Protection – em parceria com FG4 Mad e Malinovski, publicações de anais, workshops, entre outros. “Nosso objetivo sempre foi se aproximar dos mercados regionais, discutir dificuldades, caminhos, tudo isso para difundir a utilização de madeira tratada. Também temos continuamente incentivado a correta utilização da madeira tratada em novos segmentos. Temos que fazer o mercado conhecer os benefícios. Para isso, precisamos levar esse conhecimento aos diferentes públicos”, afirmou.
Como um marco dos 50 anos, Lopez destacou a nova sede da Associação, com uma recepção conjunta entre ABPM, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Núcleo da Madeira e SBS. Além disso, ele citou a importante ação para inclusão da atividade de indústria de preservação de madeira no Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), com criação de subclasses específicas, e o trabalho para derrubar uma “fake news” que circula pelo país com relação à contaminação de pessoas com a madeira tratada, o que incluiu uma publicação especial no portal de notícias G1, da Globo, na editoria “Fato ou Fake”.
“Também criamos a comissão de madeira tratada na construção civil, com Guilherme Stamato, estamos com uma demanda para registro de ingredientes ativos no Ibama, temos participado ativamente na revisão e criação de normas etc. Mas ainda temos muito mais para fazer, como fortalecer continuamente a correta utilização de madeira tratada. Para isso, vamos fazer reuniões técnicas com diferentes mercados, discutindo questões como disciplinamento fiscal, para trazer clareza às condições de comércio, garantindo qualidade. Outra frente de trabalho será fortalecer e ampliar o programa Qualitrat”, garantiu.
Joseane Knop, da Dash7, empresa responsável pela Comunicação e Marketing da instituição, também fez um balanço do ano no encontro, destacando que a gestão do Facebook da ABPM teve um panorama muito positivo e que os boletins on-line trabalharam a comunicação direta da Associação com o mercado, com informações do que está acontecendo no setor.
“Em 2019, lançamos um novo site, discutimos assuntos variados, falando sobre o panorama do setor em 2019, novos associados, os 50 anos da ABPM, movimentações do setor na construção civil, uso da madeira tratada nas mais diversas formas, entre outros temas. Acredito que não estamos aqui somente para fazer negócios, mas para celebrar e nos conectar. A vida é feita de pessoas e a publicidade e a comunicação têm a ver com esclarecer todo esse conteúdo para melhorar a vida das pessoas”, comentou.
Quem também marcou presença no encontro da ABPM foi o ex-presidente Aldo Gandolfi, um dos fundadores da Associação. Para ele, o saldo dos 50 anos da entidade é bastante positivo.
Para a associada Maíra Venturoli, diretora da Venturoli, eventos como o organizado pela ABPM são muito importantes, porque fortalecem as empresas. Ela afirmou que esses espaços servem para discutir as preocupações, as coisas que afligem o setor e o que pode ser feito para melhorar o dia a dia.
“Além disso, a troca de conhecimento é fundamental, porque vemos a realidade de outras usinas no Brasil e sabemos que não estamos sozinhos, que nossas dores também são as dores dos outros. Aqui, podemos ter excelente conteúdo, como ter a presença, por exemplo, de Paulo Pupo, que está no cenário internacional e que conhece o que acontece em outros países e em outros Estados. Tudo isso nos ajuda a planejar os próximos passos”, ressaltou.
Eudes Ribeiro, gerente da SEAP, reforçou que a ABPM é uma entidade muito importante para o setor, pois representa e dá suporte. “A Associação é fundamental para o setor, com profissionais e diretoria altamente capacitados. Ao longo do tempo, a ABPM veio acumulando experiência, o que para o setor é essencial, trabalhando com normas, reuniões, workshops. É uma associação bastante atuante e que faz a diferença para o setor de madeira tratada”, disse.
De acordo com Leonardo Puppi Bernardi, diretor-presidente da TWBrazil, a Associação representa as empresas em nível nacional, já que muitas empresas ficam limitadas ao seu raio de atuação. Porém, ele ressaltou que, quando se amplia o mercado, é importante ter uma bandeira como a da Associação para garantir qualidade homogênea em todos os Estados.
“Muitas questões que temos no nosso dia a dia são realidade de todas as empresas, então estar associado a uma entidade tão atuante nos ajuda a fortalecer essa luta, que é uma luta de todo setor. O evento garantiu ainda mais isso, com excelentes palestrantes que trouxeram muita informação técnica e relevante para que possamos tomar as decisões nos próximos meses e anos. Esse encontro orienta nossas decisões em investimentos e de mercado e acaba impactando na criação de uma infraestrutura de produção de madeira tratada que pode perdurar por anos. O nível é cada vez melhor”, destacou.
Outro associado que esteve presente foi Raimundo Santana, diretor da STWood. Na avaliação dele, o evento foi bastante produtivo e serviu para mostrar que a cadeia da madeira tratada está sendo desenvolvida e vem crescendo.
“É muito vantajoso ter um evento como esse, porque acabamos conhecendo outras pessoas que têm as mesmas dificuldades, e isso acaba ajudando as empresas a superar obstáculos. Quem trata madeira tem que se unir. Nosso concorrente não somos nós mesmos, mas, sim, outros materiais, e temos muito para crescer ainda, principalmente nesse momento, que fala-se muito de sustentabilidade. Preservar a madeira é uma das coisas mais importantes que podemos fazer para os próximos anos. Portanto, estar aqui e também participar de uma entidade de classe é fundamental, porque a entidade tem muito suporte, e quem quer trabalhar de forma correta e quer evoluir precisa estar ligado em quem está produzindo norma e preocupado com o mercado”, completou.
Qualidade da madeira
Fernando Lopes, do Instituto Totum, parceiro da ABPM no programa de autorregulamentação Qualitrat, foi um dos palestrantes do encontro e disse que Intenção da Associação é que todas as usinas sejam certificadas e usem o selo Qualitrat. Para isso, foram feitas algumas modificações no programa e, além das categorias Adesão e Pleno, que mudaram para Prata e Ouro, respectivamente, criou-se uma nova, chamada Bronze. Nessa, será feita auditoria 100% documental.
“A ideia é que essas primeiras certificações sejam lançadas no início de 2020. Queremos que todas as usinas se declarem aderentes ao Qualitrat. Outra novidade é que a ABPM decidiu criar uma nova categoria de certificação para os demais associados que não são usinas. Esse foi um pedido das próprias usinas, que querem que o conceito de qualidade da Associação envolva toda a cadeia de negócios do setor. A previsão é definir os critérios e lançar a certificação até junho de 2020”, declarou.
Mercado internacional
Paulo Pupo, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), um dos palestrantes do encontro, iniciou a palestra dando os parabéns à ABPM pelas ações de certificação, que, segundo ele, elevam a qualidade do produto e levam o Brasil a um patamar internacional. “Quando normaliza o produto, padroniza o mercado, e essa é uma das principais frentes de trabalho da Abimci”, disse.
Ele lembrou que o país tem quase 500 milhões de hectares de área, mas somente 1,62% de árvores plantadas, setor que fornece 93% da matéria-prima. Para ele, o baixo número se deve ao excesso de legislação, entraves etc.
“Respondemos por quase 20% das exportações. O setor de base florestal tem mais de 182 mil empresas, e só a indústria de madeira sólida representa 77% desse total. Mas, mesmo com esse número expressivo, somos responsáveis por apenas 19% do total da exportação. Já empregamos um milhão de pessoas, mas, hoje, esse número chega a 600 mil”, apontou.
Além disso, Paulo Pupo também lembrou que poucos segmentos tiveram aumento efetivo de produção, e o cenário é o mesmo de cinco anos atrás. Ele reforçou que o consumo interno está estagnado e até diminuindo em alguns casos, mas há um grande potencial de consumo interno. Para ele, o aumento das exportações aconteceu em decorrência da apatia do consumo interno e da atratividade do câmbio, e as fusões e aquisições no suprimento florestal também estão influenciando a cadeia e mudando a dinâmica de mercado.
Para o futuro, ele apontou que existem alguns desafios, como renovar o parque tecnológico, pois novos investimentos garantem aumento de produtividade, mas faltam financiamentos para isso; normalização, já que a criação de normas técnicas normaliza o mercado e padroniza, gerando escala de negócio; popularização do sistema construtivo wood frame, que é algo que pode mudar o consumo interno e resolver o déficit habitacional.
“Números mostram que o Brasil tem sete milhões de déficit habitacional. Se o sistema wood frame atender 10% da demanda nos próximos cinco anos, são aproximadamente 600 mil casas, mas não temos matéria-prima para isso. Temos um potencial de crescimento espetacular a partir da hora que a norma wood frame se tornar pública e entrar no escopo de financiamento dos órgãos oficiais. Essa norma será um enorme divisor de águas”, garantiu.
Para o segmento de preservação de madeira, o superintendente da Abimci falou sobre as oportunidades, como com relação ao sistema wood frame, já que o setor terá aplicabilidade em todo o segmento.
“Mas será que o setor está diretamente inserido nas especificações da norma? É preciso fazer essa autoanálise. Há potencial de crescimento, estamos exportando mais e consumindo menos. Quando o consumo doméstico melhorar, as oportunidades são reais, pois há diversos segmentos com demanda reprimida. Se o setor não colaborar, institucionalmente não vai acontecer. O momento exige cautela, visão de futuro e olhar preciso nas oportunidades, estratégias mais abrangentes de mercado e maior entendimento e cooperação entre os pares”, concluiu.
Madeira na construção civil
Para falar sobre o cenário da madeira na construção civil, a ABPM convidou o engenheiro e coordenador da Comissão da Madeira Tratada na Construção Civil, Guilherme Stamato, da Stamade. Segundo ele, no período de crescimento, o Brasil criou muito espaço para industrialização, trazendo muito da tecnologia que estava se desenvolvendo mundo afora, já que a construção com madeira não está evoluindo somente no Brasil, mas no mundo todo. Com isso, ele afirmou que chegou a hora do setor ter normas especificas.
“A norma de desempenho tem sido muito importante para a construção civil. Se queremos colocar nosso produto no mercado, temos que provar que ele é um bom produto, um produto confiável. Isso é muito importante para a madeira, porque temos um histórico de desconfiança no Brasil. Precisamos ter dados e certificar. A madeira, por exemplo, é mais segura que uma construção de aço. Isso é comprovado, mas precisávamos tecnicamente mostrar esse dado e dar soluções, para que não fique somente na nossa palavra”, ressaltou.
Para justificar a evolução da madeira no mundo todo, ele afirmou que o fato de a população estar crescendo, também com migração da população rural pra urbana, traz grande impacto. Segundo o engenheiro, há a expectativa de, nos próximos 30 anos, o mundo precisar de habitação para 2,5 bilhões de pessoas.
“Será que nosso planeta resiste à construção convencional? Todo mundo sabe que a madeira sequestra carbono. Temos nas mãos um material renovável. Em termos de concreto, estima-se que o primeiro material que vai faltar é a areia. Ou seja, temos nas mãos uma solução para tudo isso, que é o que nos move. Não estamos aqui só pra divulgar um produto e pagar conta no fim do mês, mas para enxergar a importância do que estamos fazendo e motivarmos uns aos outros, porque estamos no caminho certo. Agora é a hora de aproveitar e decolar”, garantiu.
Ele citou que o conforto e o desempenho de casas de madeira são muito melhores do que casas construídas com outros materiais e também lembrou que, hoje, já se construiu no Brasil prédios em madeira, com quatro pavimentos. Para popularizar, é preciso mostrar à sociedade que existe bastante tecnologia por trás do sistema.
“Estamos sendo muito cobrados quanto à qualidade. Temos um problema sério de credibilidade e somos muito confundidos com a exploração ilegal de madeira. O mercado madeireiro não conhece normas técnicas. Também estamos muito suscetíveis à inconstância do fornecimento. Precisamos trabalhar com madeira reta, seca, classificada. Por isso, devemos trabalhar a madeira como um produto. Estamos no caminho, temos o produto, só precisamos entrar no trilho”, finalizou.
Ainda sobre o assunto, o arquiteto Marcelo Aflalo – presidente do Núcleo de Referência em Tecnologia da Madeira, outro palestrante do evento, garantiu que as vantagens da construção com madeira são fantásticas e muito fáceis de serem comprovadas, mas o Brasil ainda está andando a passos lentos no assunto. Ele lembrou que o mercado de madeira engenheirada tem inúmeras opções, como CLT, Glulam, NLT, entre outros. Além disso, a indústria já vem trabalhando com combinações, pois elementos compostos são o futuro da construção civil.
“Precisamos repensar os princípios dos processos para atingir escala global de construção. O problema não é somente a matéria-prima, mas a origem da madeira, e precisamos nos atentar a isso, pensar em aspectos de preservação, retardantes de chamas, materiais associados. Esses materiais precisam garantir que, até o ciclo final da madeira, não seja quebrada nenhuma etapa do ciclo. Existem casa com mais de 100 anos construídas com sistema em madeira e que estão inteiras, em perfeito estado”, ressaltou.
Para garantir mais popularidade à madeira, o arquiteto afirmou que é preciso fazer exercícios para mudar a legislação e mostrar “como fazer” para as áreas afins. Dentre os desafios, ele citou a necessidade de proteção e retardantes de baixo impacto, considerando o ciclo de vida completo. “É o que precisamos fazer para correr atrás e chegarmos no estágio em que outros países já estão. Precisamos reavaliar nossos processos. Se pensamos em indústria 4.0, precisamos entrar nesse ciclo de produção, no circuito, e fazer parte da cadeia. O Núcleo da Madeira tem a função de juntar todos os elos, fazer com que discutam o seu papel e estabeleçam um diálogo para fazer isso acontecer”, completou.
Dormentes e postes de madeira
Ainda durante o encontro, a ABPM trouxe Maria José de Andrade Miranda, responsável pelo Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis do IPT, para falar sobre os “Aspectos técnicos no controle da qualidade de dormentes”.
Ela destacou que o departamento realiza a inspeção in natura, fazendo classificação no produto quanto à conformidade das peças das especificações da ferrovia, para facilitar a verificação dos requisitos e defeitos naturais, e também tratamento preservativo, coletando amostras de alburno tratado e seguindo a norma de plano de amostragem, para fazer análise de penetração e profundidade com teste colorimétrico e análise da retenção do produto preservativo.
Em seguida, Walker de Souza, gestor Operacional de Planejamento da Manutenção na EDP, falou sobre a experiência da EDP na inspeção de postes de madeira. Segundo ele, a descontinuidade desses postes é uma tendência, pela falta de manutenção. Por isso, a EDP foi buscar tecnologia e, hoje, é a distribuidora pioneira para a inspeção de postes de madeira em uso para conseguir dar respostas à população. Hoje, a empresa tem processo de inspeção, com uma ferramenta portátil, de fácil manuseio, que mede a resistência mecânica e o nível da umidade interna do poste. Esse equipamento acumula dados para, depois, gerar um laudo.
“A inspeção convencional reprovava, em média, 70% dos postes inspecionados. O equipamento traz uma média de reprovação de 20% dos postes inspecionados. Com essa tecnologia, temos subsídio técnico para tomada de decisão e melhor direcionamento do recurso disponível. Além disso, temos respostas argumentadas às reclamações de clientes. Esse assunto está sempre em pauta no setor, por isso fomos buscar tecnologia para melhorar esse processo. Precisamos fomentar a questão, porque o poste de madeira é mais seguro do que o poste de concreto, por exemplo, mas infelizmente criou-se preconceito cultural no Brasil sobre o assunto. Por isso, o trabalho de manutenção para o poste continuar em serviço é muito importante”, garantiu.
Na programação do evento, a ABPM incluiu também um jantar de confraternização com os presentes. Na ocasião, a diretoria atual fez uma homenagem aos ex-presidentes com uma placa comemorativa. Aldo Gandolfi, um dos fundadores da Associação e ex-presidente presente no encontro, recebeu a deferência, representando as 25 diretorias anteriores. Além disso, os associados e os patrocinadores do evento receberam um certificado que marca os 50 anos da ABPM.
Outro momento especial do dia ficou por conta da artesã Aninha Haddad, que presenteou a Associação com uma escultura em papel eternizada em um quadro. A obra foi apresentada durante a tarde para os mais de 60 participantes.
Para saber mais sobre o trabalho da artista: aninha@aninhahaddad.com.br | www.aninhahaddad.com.br | (11) 98584-3775.
Boletim informativo mensal da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM)
Contato: info@abpm.com.br – www.abpm.com.br
Jornalista responsável e redação: Juliane Ferreira – MtB 04881/PR
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